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Descarbonização é estratégia competitiva e oportunidade: como foi a sexta-feira na COP

Descarbonização é estratégia competitiva e oportunidade: como foi a sexta-feira na COP
No Dia da Indústria promovido pelo governo do Brasil na COP28, setores de papel e celulose, alimentação e automotivo discutem soluções para reduzir emissões

Presidente da CNI defendeu um ambiente de negócios mais favorável ao desenvolvimento do setor industrial e à atração de investimentos

A indústria foi o tema central do debate no pavilhão do governo brasileiro na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) na manhã desta sexta-feira (8), em Dubai. O setor discutiu estratégias para que o país reduza as emissões de gases de efeito estufa e apresentou iniciativas sustentáveis que já vêm sendo implementadas em setores como papel e celulose, alimentação e automotivo.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), destacou que o país tem diversos bons exemplos a dar ao mundo quando se fala em sustentabilidade, e que a descarbonização da economia, mais do que uma agenda ambiental, é uma questão de competitividade.

“Temos que nos comprometer a descarbonizar a economia para não perder a competitividade. Estamos caminhando na direção certa, mas há muito por fazer. Precisamos construir um ambiente de negócios mais favorável ao desenvolvimento do setor industrial e à atração de investimentos que diversifiquem a cadeia de suprimentos”, disse.

Alban defendeu os esforços conjuntos feitos pelo governo, Legislativo e setor privado para o fortalecimento da indústria e apontou alguns desafios prioritários, especialmente voltados à agenda da descarbonização.

“Como estamos debatendo alternativas para a consolidação de uma economia verde e para a contenção das mudanças climáticas, destaco a necessidade da aprovação de regras claras e estáveis para o mercado regulado de carbono. É igualmente importante a adoção de medidas que estimulem o desenvolvimento de tecnologias para a produção de hidrogênio de baixo carbono e energia eólica em alto mar, além de outras fontes sustentáveis de energia”, apontou Alban.

Política para fortalecimento da indústria nacional

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, defendeu uma estratégia de país para fortalecimento da indústria e destacou as oportunidades de atração de investimento da agenda verde. “Não podemos deixar de lado um ativo tão importante, já que o Brasil é hoje um dos países que mais têm matéria-prima no mundo e tem uma matriz energética extraordinária, para citar apenas duas bases fundamentais para ter uma indústria forte. Estou muito animado com as parcerias que estamos fazendo com a CNI para trabalhar a ideia da neoindustrialização. O Brasil tem uma oportunidade incrível de se firmar como grande protagonista no enfrentamento da crise climática a partir da descarbonização”, completou Viana.

Para o presidente da Apex, há sensibilidade do parlamento, do governo e acúmulo de conhecimento da CNI para concretizar essa política nacional, e os investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são uma oportunidade de fazer a indústria brasileira avançar. O presidente da Apex disse ainda estar bastante otimista com as oportunidades que surgem com a economia verde, as quais devem resultar em um período de prosperidade para os produtos brasileiros nos mercados internacionais.

Soluções de descarbonização em diferentes setores

O painel Estratégia de Baixo Carbono do Setor Industrial reuniu representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), da JBS e da Suzano para debater como esses setores têm atuado para promover a descarbonização do processo produtivo e como continuar avançando. Na indústria de proteína, o maior desafio é dar suporte ao produtor. “Não basta só impor condições, temos que incentivar o produtor a produzir de forma sustentável. Para isso, uma das soluções é trabalhar a agricultura e pecuária regenerativa”, explicou Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da JBS.

A meta da empresa é ser net zero em 2040, dez anos antes do Brasil. Para isso, está desenvolvendo metas de redução de emissões de gases de efeito estufa em suas operações globais e nas cadeias de valor na América do Sul, América do Norte, Europa, incluindo Reino Unido, além de Austrália e Nova Zelândia. A JBS também investe em Pesquisa e Desenvolvimento para implementar soluções de mitigação das emissões, como melhoria nas práticas agrícolas regenerativas, intensificação de sequestro de carbono no solo e em tecnologias voltadas para as fazendas dos fornecedores.

A Suzano, segundo o diretor-executivo de bens de consumo e relações corporativas, Luís Bueno, já uma empresa carbono negativo. “Hoje, emitimos menos do que capturamos na atmosfera. Investimos em plantas com eficiência energética e na descarbonização da frota de navios, meio pelo qual temos mais de 90% da produção exportada”, explica.

Bueno destaca que o Brasil tem condições de liderar as discussões climáticas e ambientais, mas é responsabilidade conjunta de governo e da iniciativa privada mudar a percepção de como é feito. “Temos a matriz energética mais limpa do mundo e isso é pouco conhecido”, avalia Bueno.

Diversidade tecnológica para uma economia verde

Igor Calvet, diretor-executivo da Anfavea, disse que no Brasil o setor é responsável por 14% das emissões de gases de efeito estufa, índice baixo quando comparado com outros países. Nos Estados Unidos, chega a 30% e na Europa é de 25%. Mesmo assim, é um número preocupante e que deve ser reduzido.

“Temos que fazer e podemos fazer ainda mais. Nesse sentido, acreditamos que a diversidade tecnológica é fundamental. Apostar em uma única rota de descarbonização pode inibir soluções ambientalmente sustentáveis. Temos que nos preocupar não apenas com o tipo de combustível usado, mas em como a energia para produzir o combustível é gerada. Se fizéssemos isso, seríamos muito mais competitivos. A eletrificação é um caminho, mas precisamos mensurar as emissões desde a extração”, explicou.

Calvet se refere ao conceito que envolve não só a emissão de gases resultante uso do veículo propriamente dito, mas também o saldo das emissões provenientes da produção da energia. Isso significa considerar as emissões e absorções de GEEs de todo o ciclo de vida da fonte de energia, desde a extração dos recursos, passando pela produção de energia e combustível, até seu consumo nos motores.

Mobilização pela Amazônia

A preocupação com a Amazônia também foi abordada na programação do Dia da Indústria promovido no pavilhão Brasil. Marcelo Thomé, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO), apresentou o trabalho desenvolvido pelo Instituto Amazônia+21 e destacou que, além da atenção com a preservação da floresta e da biodiversidade, o intuito da CNI com o projeto é contribuir com o desenvolvimento sustentável da região.

“São 30 milhões de brasileiros que vivem na floresta e precisam de infraestrutura, oportunidades e emprego para viver com dignidade. Precisamos gerar valor para essas pessoas e ajudar a Amazônia. Para isso, contamos com a bioeconomia no foco da atuação do instituto para desenvolver projetos sustentáveis”, disse Tomé.

Um levantamento apresentado na COP28 feito pelo Observatório Nacional da Indústria, da CNI, a pedido do Instituto Amazônia+21, identificou que, hoje, há disponível mais de R$ 40 bilhões em fontes de financiamento para projetos sustentáveis na Amazônia Legal.

A Indústria na COP28

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) participa, de 30 de novembro a 12 de dezembro, da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Na Conferência, a indústria vai defende o avanço na implementação do mercado global de carbono, a definição da estratégia de descarbonização da economia e trabalhará na mobilização dos países para o financiamento climático – medidas consideradas necessárias pelo setor para o desenvolvimento da agenda climática.

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