Os pilares do B20: uma contribuição para o crescimento sustentável no Brasil e no mundo
Em artigo no Valor Econômico, Dan Ioschpe, chair do B20 Brasil, e Constaza Negri, sherpa do B20 Brasil, explicam que o objetivo é propor recomendações que impactem positivamente as economias e sociedades.
Pela primeira vez, o Brasil assumiu a presidência do B20, fórum global formado pelo setor privado e que acompanha o G20, grupo que reúne os principais países do mundo e que concentra mais de 90% do PIB mundial.
Nossa responsabilidade à frente do B20 é propor recomendações que impactem positivamente as economias e sociedades. Concentraremos nossos esforços em propostas relevantes, concretas e escaláveis, visando deixar um legado significativo e que acelere o desenvolvimento socioeconômico, especialmente no chamado Sul Global.
O B20, formado por mais de 1.200 representantes da comunidade empresarial dos países do G20, vai elaborar recomendações que conversem com as prioridades do G20 e do setor privado. Temos sete forças-tarefas temáticas e um conselho de ação, atuando nas frentes de Comércio e Investimento; Emprego e Educação; Transição Energética e Clima; Integridade e Conformidade; Transformação Digital; Finanças e Infraestruturas; Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura; e Mulheres, Diversidade e Inclusão nos negócios.
Esses grupos de trabalho são liderados por oito líderes empresariais brasileiros e coliderado por mais de 60 líderes empresariais de outros países do G20. Essas lideranças trazem amplas perspectivas de diferentes setores econômicos e estão comprometidas em contribuir para o sucesso do B20 Brasil. Para maximizar nossa eficiência, cada um dos oito grupos de trabalho irá focar em três recomendações que serão concluídas até o fim de julho, quando faremos a apresentação formal das nossas propostas para os líderes do G20 e para a sociedade.
O trabalho do B20 Brasil é orientado por cinco eixos estratégicos que desenvolvem o nosso lema “Crescimento Inclusivo para um Futuro Sustentável”. Tais eixos, estão conectados às três grandes prioridades do G20 e vão nos ajudar a trazer as recomendações necessárias para que avancemos em temas relevantes como a transição energética e o processo de descarbonização, transição digital, o combate à fome, pobreza e as desigualdades, entre outros.
Os pilares do B20:
Promover o crescimento inclusivo e combater a fome, a pobreza e as desigualdades
Vivemos em um mundo onde 61% da população não tem acesso a cuidados básicos de saúde nem à uma dieta adequada. O crescimento inclusivo deve ser adotado como modelo essencial para enfrentar esses desafios, garantindo que a prosperidade seja compartilhada por todos, promovendo um futuro mais justo e equitativo. Vamos elaborar recomendações que possam impulsionar o desenvolvimento social e econômico e com isso reduzir as disparidades no acesso a oportunidades e recursos com impacto positivo no bem-estar das pessoas.
Aumentar a produtividade por meio da inovação
Mais de 95% das residências na Europa, por exemplo, têm acesso à internet. Quando olhamos para a África, esse número é de apenas 7%. Uma das ferramentas mais potentes na luta contra a pobreza e a desigualdade é a inovação. A tecnologia pode ser usada como vetor de aumento de produtividade, e de geração de novas oportunidades para o empreendedorismo. Desde avanços na agricultura que aumentam o rendimento das colheitas até inovações nos cuidados de saúde que melhoram o acesso a serviços essenciais. A inovação é a chave para a criação de um mundo mais equitativo e próspero.
Governos, empresas e sociedade civil devem colaborar para fomentar pesquisa e inovação, cultivando uma cultura que distribua igualmente os frutos do avanço tecnológico. Investindo em educação, habilidades e infraestruturas, os países podem capacitar indivíduos, empresas e comunidades a prosperar na economia da inovação, promovendo um crescimento sustentável e diminuindo disparidades.
Promover a resiliência das cadeias de valor globais
A pandemia que enfrentamos no início de 2020 e os conflitos mundiais destacaram as fragilidades das cadeias produtivas globais, mostrando os riscos de uma diversificação limitada. Para fomentar o crescimento inclusivo e a resiliência, é vital reformular os modelos produtivos, incentivando a colaboração entre partes interessadas, fortalecendo a produção local, adotando políticas comerciais que beneficiem todas as economias. Diversificar fontes de abastecimento, investir em tecnologia digital, aprimorar logística e infraestruturas e tornar as cadeias mais sustentáveis podem minimizar riscos e estabilizar cadeias de valor.
Promover uma transição justa para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa
Se as emissões de gases não diminuírem, ultrapassaremos o limite de aumento de 1,5°C na temperatura global. Em 2022, desastres naturais e mudanças climáticas causaram perdas econômicas de 300 bilhões de dólares. No Brasil, estamos vivenciando um grande exemplo disso com a recente enchente do Rio Grande do Sul, que resultou em vítimas fatais, além de destruir casas, desabrigando milhares de pessoas, sem falar das perdas industriais, agrícolas e de infraestrutura, que devem gerar prejuízos muito significativos.
É urgente desenvolver ações para mitigar as mudanças climáticas e acelerar a transição para uma economia neutra em carbono. Precisamos de ações climáticas ambiciosas e políticas para proteger trabalhadores, apoiar comunidades dependentes de combustíveis fósseis e promover empregos verdes. Ao investir em energias renováveis, em projetos de infraestrutura sustentável e adaptação às mudanças do clima, e soluções baseadas na natureza, os países podem criar caminhos para a prosperidade. Precisamos criar instrumentos para mobilizar de forma mais eficiente e ampla o capital público e privado, visando financiar a transição nas regiões que mais precisam.
Fortalecer o capital humano
Investir no desenvolvimento e bem-estar humano é crucial para fomentar o crescimento inclusivo e combater pobreza e desigualdade. Educação, saúde e proteção social são fundamentais para desenvolver o capital humano, permitindo que indivíduos atinjam seu potencial e contribuam para o progresso econômico e social. Ao assegurar acesso a serviços educacionais e de saúde de qualidade, os países podem cultivar uma força de trabalho qualificada e adaptável, essencial para impulsionar inovação, crescimento econômico e resiliência. Isso ajuda a romper o ciclo da pobreza e aumentar a mobilidade social.
Adotando estratégias de impacto social e econômico que integrem inovação, resiliência e desenvolvimento humano, a comunidade global pode construir um futuro de prosperidade compartilhada. E para tornar isso possível, o setor privado tem um papel vital, atuando não só como promotor, mas como agente de mudanças práticas para alcançar esses objetivos. Empresas globais, com sua agilidade e recursos, são cruciais na implementação de soluções sustentáveis que beneficiam a sociedade como um todo.
O B20 é uma oportunidade para amplificar todos esses esforços, promovendo a colaboração entre empresários e governos para avançar em iniciativas relevantes, sustentáveis e inclusivas no Brasil e no mundo.
*Dan Ioschpe é chair do B20 Brasil e Constaza Negri é gerete de Comércio e Integração Internacional da CNI e sherpa do B20 Brasil.
O artigo foi publicado no Valor Econômico no dia 28/05/2024.