Oito CEOs de grandes empresas brasileiras apresentaram, para um público empresarial de cerca de 700 pessoas, no Rio de Janeiro, as principais pautas que serão discutidas pelo B20 Brasil ao longo de 2024. Os temas fazem parte das forças-tarefas do fórum empresarial, o mais influente grupo de engajamento do G20.
O debate ocorreu durante o Opening Event do B20 Brasil, no Rio de Janeiro, o grupo de engajamento do G20 coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Neste ano, além do retorno do grupo de Integridade e Compliance, foram criados a força-tarefa Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura e o conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão na Ação Empresarial.
- Assista à transmissão no Youtube da CNI e acompanhe a cobertura completa na Agência de Notícias da Indústria.
O painel, moderado pela sherpa do B20 Brasil, Constanza Negri, reforçou que todos os trabalhos do fórum ao longo da gestão brasilira serão orientados pelo tema “crescimento inclusivo para um futuro sustentável” e pelos pilares definidos a partir dele:
- promover o crescimento inclusivo e combater a fome, a pobreza e as desigualdades;
- promover uma transição justa para net zero;
- aumentar a produtividade por meio da inovação;
- promover a resiliência das cadeias globais de valor e
- valorizar o capital humano.
Comércio e investimento
Em meio às transformações na dinâmica comercial das principais economias do mundo, o B20 Brasil vai debater como promover um comércio internacional aberto, equitativo e mais eficiente. A força-tarefa de comércio e investimento vai estudar medidas para tornar as cadeiras de valor globais mais resilientes e criar um ambiente propício aos investimentos entre os países e ao crescimento inclusivo.
Os principais centros comerciais como China, União Europeia e Estados Unidos continuam importantes, mas os corredores comerciais com países em desenvolvimento têm ganhado relevância. Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) prevê um crescimento significativo dentro e entre esses países, enquanto vários corredores comerciais importantes podem encolher ou crescer mais lentamente.
Os desafios para alcançar as melhorias são muitos: além da mudança no comércio internacional, as alterações climáticas mais frequentes, os desafios geopolíticos, as disputas em torno de rotas comerciais marítimas, as pressões inflacionárias desde a pandemia de Covid-19 e o aumento na implementação de mecanismos de ajuste de fronteira de carbono.
À frente da Embraer desde 2019, o presidente Francisco Gomes Neto lidera a força-tarefa de Comércio e Investimento. Segundo ele, o grupo vai trabalhar para aumentar o comércio e investimento global e desenvolver todos os setores, sem exceção.
“Temos observado as relações comerciais ameaçadas, as mudanças climáticas, os conflitos recentes. As reuniões ao longo dos próximos meses serão uma ótima oportunidade para avançarmos na direção de um sistema global justo e aberto. É preciso discutir como reformular o comércio global, a abordagem da mudança climática. Estamos animados para trabalhar com outros líderes e ajudar os países do G20 a criar mais oportunidades em comércio e investimento mundial”, afirmou o presidente da Embraer.
Emprego e educação
A força-tarefa de Emprego e Educação vai debater medidas para reduzir disparidades em emprego e educação e alinhar, por meio de sugestões para melhoria das habilidades da força de trabalho por meio da qualificação, requalificação e aprendizado contínuo adaptado às demandas do mercado de trabalho global. As discussões serão parte do objetivo geral do grupo empresarial, de promover um crescimento inclusivo, tema alinhado ao G20 Brasil.
A força-tarefa de educação e emprego do B20 tem como um dos objetivos sugerir políticas que melhorem as habilidades da força de trabalho por meio da qualificação, requalificação e aprendizado contínuo adaptado às demandas do mercado de trabalho global.
Os principais desafios, segundo o líder da força-tarefa e CEO da Suzano, Walter Schalka, se destacaram após a pandemia e estão relacionados às novas tecnologias novas e às mudanças climáticas.
- O primeiro é o aumento das desigualdades econômicas e sociais pelo mundo e o acesso à educação, tendência que piora principalmente observando o impacto da pandemia nos países de renda menor;
- o segundo tem a ver com as mudanças geopolíticas;
- o terceiro é o da crise climática, que demanda a construção de uma resiliência climática; e
- o quarto é o avanço da inteligência artificial, que terá diversos benefícios, mas provocará desafios para o cenário de emprego e educação.
“Temos que trabalhar nisso para as próximas gerações, de filhos e netos. O objetivo é criar oportunidades iguais especialmente em comunidades menos favorecidas, impulsionar o desenvolvimento sustentável, melhorar o acesso para todos. Adaptabilidade e resiliência serão nossos companheiros nesta jornada de desafios, e juntos poderemos criar um futuro no qual emprego e educação nãoo sejam responsivos mas transformativos, sem deixar ninguém pra trás”, afirmou.
Transição energética
O B20 também quer unir forças com os governos membros do grupo para acelerar a transição energética global justa e minimizar os efeitos das mudanças climáticas. De acordo com uma estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), os países do G20 respondem por 80% das emissões globais, embora abriguem 60% da população mundial.
A união de setores públicos e privado é fundamental para gerenciar a situação. Segundo o McKinsey Global Institute, o investimento necessário para zerar a emissão de carbono seria de 275 trilhões de dólares até 2050, ou seja, 9,2 trilhões de dólares por ano, em média. Isso representa um aumento anual de até 3,5 trilhões de dólares em relação ao investimento atual, o que equivale à metade dos lucros corporativos globais, um quarto da receita tributária total e 7% dos gastos familiares.
Para o líder da força-tarefa de transição energética e CEO da Raízen, Ricardo Mussa, ainda não estamos fazendo um bom trabalho, por isso é preciso avançar. “Participei do B20 anteriormente e vi que tem muitas possibilidades discutidas, mas precisamos colocar tudo em ação. Nosso país tem feito um ótimo trabalho de substituir combustível fóssil nos transportes. Nosso principal desafio é executar ações que tenham impacto global”, disse Mussa.
Transformação digital
Com a crescente adoção da tecnologia digital, é essencial uma transformação digital que seja sustentável, inclusiva e resiliente. A força-tarefa do B20 Brasil se compromete a liderar esta transformação, com foco em avanços em infraestrutura digital, segurança cibernética e adoção de tecnologias emergentes.
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), baseados em estudos internacionais, a utilização da internet varia significativamente pelo mundo, sendo de 33% na África e de 87% na Europa. Este panorama ressalta a necessidade urgente de reduzir as disparidades digitais globais. Em relação ao universo empresarial, as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que respondem por cerca de 90% das empresas e 50% do emprego em todo o mundo, ficam para trás quando o assunto é digitalização.
A força-tarefa de Transformação Digital do B20 é liderada pelo diretor-presidente da Tupy, Fernando Rizzo. O executivo reforçou que embora a missão do grupo seja discutir tecnologia e digitalização, o conceito de transformação digital é muito mais amplo.
“O digital não é o fim, é parte do caminho. E a nossa missão é propor recomendações que permitirão preparar o ambiente de negócios para acelerar mecanismos necessários para a educação, a transformação digital, a segurança alimentar, a renda, a moradia. Nossa força tarefa vai trabalhar políticas que apoiam o uso do mundo digital para facilitar iniciativas práticas nesse caminho. Não podemos trabalhar nessa força ignorando as condições do mundo em que vivemos”, disse Rizzo.
Finanças e Infraestrutura
Diante do esforço global para limitar o aumento da temperatura da Terra em 1,5º C, o reforço do financiamento de projetos ligados a questões climáticas é uma das apostas do setor privado para o financiamento global. Esse é um dos postos-chaves de debate da Força-Tarefa sobre Finanças e Infraestrutura, liderado pela sócia-fundadora da EB Capital, Luciana Antonini Ribeiro.
Além de contribuir para o meio ambiente, o alinhamento das estratégias financeiras com a sustentabilidade abre novos caminhos para o crescimento econômico, em um momento de recuperação global de crises financeiras causadas pela pandemia de Covid-19 e por conflitos que desorganizaram as cadeias produtivas.
Essa pode ser também uma oportunidade para o Brasil. Em 2022, os investimentos totais enviados pelas economias do B20 somaram US$ 33,1 trilhões. Já os investimentos recebidos no ano foram US$ 35,1 trilhões. O Brasil perdeu participação como receptor de investimento direto entre os membros do G 20 entre 2013 e 2022, passando de 3,2% (10ª posição) para 2,3% (11ª posição).
Outras duas prioridades da força-tarefa de finanças para fortalecer o sistema financeiro global são a mitigação de riscos alinhada à cooperação internacional e a inovação de mecanismos de financiamento, incluindo a diversificação de fontes, melhora de eficiência e fortalecimento do acesso para mercados emergentes.
Para problemas globais, precisamos de esforço globais. “Certamente precisamos transformar as finanças num motor que vai mover um novo modelo econômico com base numa energia mais limpa. Vamos nos reunir nos próximos meses e trabalhar alinhados com as demais forças, com objetivo de alavancar a infraestrutura financeira para apoiar a transição para emissão 0 e o desenvolvimento social. Queremos fazer de forma pragmática pra ter, no fim, recomendações práticas”, explicou Luciana.
Integridade e Compliance
Entre as recomendações que o grupo empresarial do G20 Brasil – o B20 Brasil – quer discutir para levar à cúpula geral das maiores economias do mundo, no fim do ano, estão medidas que contribuam com o combate à corrupção e à conscientização da conduta ética como elemento crítico nos negócios.
Além de reconhecer a importância da transparência social, ambiental e de governança, a força-tarefa de Integridade e Compliance do B20 Brasil quer abordar desafios relacionados à gestão das cadeias de suprimentos, que devem aderir igualmente aos altos padrões de regulamentação ambiental, trabalhista e outras.
Com uma posição de peso no nicho de companhias aéreas e a primeira mulher a presidir uma empresa de aviação no Brasil, Claudia Sender lidera a força-tarefa, que retornou à estrutura do B20 na gestão brasileira. A executiva acredita que a retomada da temática no fórum reflete o reconhecimento da importância do assunto para formar um ambiente empresarial que funciona para todos.
“Nosso compromisso é elevar a integridade empresarial e transparência como fatores que contribuem para uma sociedade mais igualitária. Nosso papel enquanto líderes é construir uma cultura empresarial ética. A discussão evoluiu com o tempo, desde o foco anticorrupção até uma perspectiva mais holística alinhada com princípios sociais, ambientais e evitando o assédio, a discriminação e o racismo, tornando as empresas mais resilientes à disrupção e aos riscos não previstos, além de mitigar riscos para gestão de emergência.
Sistemas alimentares sustentáveis e agricultura
O fórum empresarial do G20 Brasil vai discutir maneiras de combater a fome e transformar os sistemas alimentares mundiais, como forma de contribuir para uma economia mais sustentável, inclusiva e resiliente. Um levantamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ ONU) estima que cerca de 30% dos alimentos produzidos no planeta sejam desperdiçados ou perdidos por ano, com até 1,3 bilhão de toneladas, cerca de 77 milhões de toneladas só na América Latina.
Além de incentivar a produção sustentável e a produtividade para diminuir o desperdício, a força-tarefa de sistemas alimentares sustentáveis e agricultura do B20 vai discutir, com empresários de todos os países do G20, desafios como o desequilíbrio da distribuição atual no mundo e a educação nutricional.
Líder da força-tarefa e presidente global da JBS, Gilberto Tomazoni destacou que a temática foi retomada pelo fórum empresarial nesta gestão após cinco anos e que o sistema global alimentar é uma conquista muito impressionante da humanidade, com ganhos na produtividade que aumentaram a segurança alimentar e reduziram os gastos das pessoas na alimentação. Por isso, precisam ser debatidos.
“Em relação a produção, nosso esforço deveria ser primeiramente aumentar a produtividade e depois melhorar a vida daqueles que conformam nosso sistema alimentar, por exemplo o produtor pequeno precisa estar envolvido, ter apoio técnico e financeiro. Temos que considerar o crescimento da população global, reduzir essa brecha de produtividade entre países diferentes para reduzirmos a pobreza e a insegurança alimentar, que tem impacto em 2.3 bilhões de pessoas pelo mundo”, analisou o líder.
Mulheres, Diversidade e Inclusão na Ação Empresarial
Segundo o estudo Women in the Workplace 2022, da McKinsey & Company, os cargos de liderança permanecem predominantemente masculinos e brancos – apenas um em cada quatro líderes é mulher, sendo uma em cada 20 uma mulher negra. Os dados reforçam os desafios que devem ser debatidos por uma das forças-tarefas do B20 Brasil, o grupo de engajamento empresarial do G20.
A líder da força-tarefa e responsável pela divisão de pagamentos globais do Ebanx, Paula Bellizia, lembrou que o grupo foi criado nesta gestão como algo essencial e tem uma visão com várias facetas. Assim, o objetivo é avançar na inclusão social, na abordagem da pobreza e no reconhecimento do poder transformador dessas iniciativas.
“Queremos aumentar o capital humano, temos vários desafios. Temos que pensar em como vamos criar empregos, de forma inovadora, para promover crescimento inclusivo. Já sabemos que empresas que tem diversidade tem uma melhor produtividade, então isso não é apenas uma questão de política social, mas de impactos e resultados”, afirmou Bellizia.
B20 no Brasil
O lançamento dos trabalhos do B20 Brasil acontece nesta segunda-feira (29), na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), no Rio de Janeiro, e reúne autoridades de governo, como o vice -presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Geraldo Alckmin, e CEOs de empresas brasileiras e estrangeiras. Desde que o fórum empresarial foi criado, esta é a primeira vez que o Brasil assume a coordenação, exercida pela CNI.