Quando, nos idos dos anos 1990, termos como “ESG”, “economia circular” e “transição energética” não apareciam com tanta frequência na imprensa e mesmo nos dicionários empresariais e do mercado financeiro, a centenária produtora e exportadora de papel Klabin enxergou uma necessidade: para seguir utilizando sua matéria-prima fundamental —a madeira— e trabalhando com recursos naturais como solo e água, precisava ajustar melhor seu equilíbrio com o meio ambiente.
Embarcou num novo modelo de negócios, baseado num maior envolvimento com as comunidades onde está inserida e investiu pesado na adequação ambiental de suas fábricas e na redução de emissões de gases de efeito estufa para conquistar sua “licença social” e se tornar a primeira empresa brasileira do setor a obter o certificado de excelência em manejo florestal concedido pelo Forest Stewardship Council (FSC).
“A Klabin é uma companhia de 124 anos, e a família fundadora da empresa, que ainda hoje é uma acionista de referência, sempre teve como estratégia a sobrevivência da empresa no longo prazo”
– Francisco Razzolini, diretor de tecnologia industrial, inovação, sustentabilidade e projetos da Klabin.
Se ainda existe alguém (especialmente no meio empresarial) que questione o retorno do investimento em práticas sustentáveis para o negócio, a mensagem que vem de uma empresa mais do que experiente no assunto é clara: não existe conflito algum no tripé do “lucro, inovação e sustentabilidade” —trata-se, antes de tudo, de uma necessidade para a sobrevivência.
Primeiro, obviamente, sobrevivência do planeta. “Todos nós já sofremos com as alterações climáticas que acontecem no mundo —basta ver os recentes eventos extremos de seca, queimadas, enchentes”, lembra Julio Nogueira, gerente de sustentabilidade e meio ambiente da Klabin.
“As ações da Klabin, em linha com a ciência, contribuem de forma relevante para melhorar o cenário, mas naturalmente dependemos de muito mais empresas.”
Mas, se o assunto é mesmo “dinheiro no bolso”, atuar de forma sustentável significa também a sobrevivência do negócio: graças ao caminho trilhado, a Klabin reduziu consideravelmente o consumo de água, consegue extrair o máximo possível de biomassa da floresta, gera biocombustíveis e energia, avanços que, no fim do dia, reduzem custos de operação e melhoram a produtividade e os objetivos de crescimento.
“É uma equação bastante interessante, em que esses três aspectos seguramente não são incompatíveis, mas extremamente coerentes e nos ajudam a alavancar, inclusive, as oportunidades e os resultados da empresa.”
A empresa reduziu suas emissões específicas de carbono em 68% entre 2003 e 2022 e preserva 42% das suas áreas como florestas nativas. É a primeira unidade do mundo a recuperar o potássio que vem com a madeira. Este ano também viu seu lucro crescer 44% no primeiro trimestre, superando R$ 1 bilhão, e se manter estável nos três meses seguintes.
Outra empresa que entendeu o recado é a Raízen, que produz e comercializa etanol, açúcar, combustíveis e bioenergia. Joint venture criada a partir da união de parte dos negócios da Shell e da Cosan, não só produz energia limpa e quer liderar a transição energética, como, desde sua fundação, em 2011, aposta em boas práticas de sustentabilidade, ancoradas em tecnologia e inovação.
“Cada vez mais eu me convenço muito de que, se não tivermos um equilíbrio entre lucro, inovação e sustentabilidade, não conseguiremos cumprir as metas ambientais necessárias para o planeta na escala em que precisamos”, diz Mateus Lopes, diretor de transição energética e investimentos da Raízen. “Só isso vai garantir a segurança energética para o futuro.”
É um círculo virtuoso: os resíduos orgânicos das usinas são usados como fertilizantes naturais no cultivo da cana-de-açúcar e na produção de biogás. Essas, aliás, são energeticamente autossuficientes, graças ao bagaço da cana, que gera bioeletricidade.
Graças a investimentos em inovação que chegam a R$ 25 bilhões, essa palha também dá origem ao etanol de segunda geração, menina dos olhos da empresa e peça com forte potencial para a transição energética mundial. “Para se ter uma ideia, estamos falando de produzir 50% a mais de etanol de segunda geração com a mesma quantidade de terra”, diz Lopes.
Em gestão hídrica, a Raízen também adota um modelo de economia circular que foi premiado na categoria “Ground Breaking Innovations” da edição de 2019 do Bonsucro Inspire Awards, premiação de políticas sustentáveis, por reduzir 50% do consumo total de água da companhia em menos de uma década.
A empresa é também a terceira maior em faturamento do Brasil, com receita líquida de R$ 246 bilhões.
“Para facilitar o raciocínio dos empresários, eu costumo fazer uma analogia simples: nos anos 1950, algumas empresas passaram a investir em qualidade para diferenciar seus produtos e serviços e muitos outros se questionavam se aquilo faria com que elas quebrassem”, diz Roberto Gonzalez, consultor de governança corporativa e ESG para empresas, professor universitário em cursos de pós-graduação e autor do livro “Governança Corporativa – o poder de transformação das empresas”.
“Hoje, não dá para existir sem qualidade —ela é primordial para que se tenha lucro. Em breve, uma empresa não sobreviverá no mercado sem inovação e sustentabilidade. Quem agora não está fazendo absolutamente nada vai ter que correr atrás do prejuízo, ter gastos incomensuráveis e, aí, sim, correm o risco de quebrar. Foi o que aconteceu no passado.”
-Roberto Gonzalez, consultor de governança corporativa e ESG para empresas.
Apesar de necessário, alterar o modelo de negócio obviamente não é uma tarefa simples, reconhecem Gonzalez e os outros especialistas entrevistados para esta matéria. É consenso que, para isso, as empresas precisam contar com profissionais que entendam do assunto —sejam eles consultores externos ou mesmo funcionários dedicados a estudar e pesquisar.
A Klabin teve (e tem) a ajuda de consultores, empresas de tecnologia e de equipamentos e garante, sem romantismo: é preciso conhecer bem o negócio, estudar as oportunidades e os desafios, se planejar e executar. Com apoio dos colaboradores e ancorados em uma forte cultura interna.
Outra chave a virar: “Sustentabilidade também não é um projeto com começo, meio e fim, mas um novo modo de pensar e executar os negócios”, lembra Gonzalez.
E, se em alguma momento, as dúvidas sobre o futuro ressurgirem, a ideia é sempre pensar em circularidade: “Quanto mais estruturada está a empresa em termos de práticas sustentáveis, mais claro fica que estamos falando de resultados de longo prazo, sempre com aspectos a melhorar e crescer, inclusive para alavancar cada vez mais inovações”, diz Razzolini.
Parabéns!